Quem brinca com o fogo pode queimar-se
Abertura do Canal do Panamá, em 15 de Agosto de 1914 Donald Trump não perdeu tempo: no próprio discurso da tomada de posse, na segunda-feira, deixou bem claro que pretende retomar o controlo do Canal do Panamá para os EUA. Alegando que é uma obra de engenharia dos EUA, que de facto assumiram entre 1904 e 1914 a edificação desta rota marítima artificial entre o Mar das Caraíbas e o Oceano Pacífico por onde hoje circula cerca de 6% do comércio mundial. Mas não é menos verdade que Washington abdicou voluntariamente do exercício da soberania no canal em 1977 com a assinatura dos tratados Carter-Torrijos, que concediam à República do Panamá a plena jurisdição da zona a partir de 1999, como veio a acontecer. O novo-velho inquilino da Casa Branca parece mesmo disposto a mandar às malvas o direito internacional, tal como aconteceu com o ditador russo ao ocupar parcelas da Ucrânia, será que isto legitima a partir de agora também a França e o Reino Unido a "reconquistarem" o Canal do Suez, inaugurado em 1869 e nacionalizado pelo Governo egípcio em 1956 apesar dos protestos de Paris e Londres? Já que o mapa geopolítico anda a ser "redesenhado", perante o aplauso de alguns, convém não deixar o Suez de fora. Até por ali fluir cerca de 12% do comércio internacional - o dobro da percentagem do Canal do Panamá. Este é o problema de quem semeia ventos: deve preparar-se para colher tempestades. O efeito de contágio é fatal: basta o rastilho de uma fogueira para que ela se multiplique por cem ou mil. E há sempre a hipótese de os tiros fazerem ricochete - mesmo que por enquanto não passem de tiros verbais.
Abertura do Canal do Panamá, em 15 de Agosto de 1914
Donald Trump não perdeu tempo: no próprio discurso da tomada de posse, na segunda-feira, deixou bem claro que pretende retomar o controlo do Canal do Panamá para os EUA. Alegando que é uma obra de engenharia dos EUA, que de facto assumiram entre 1904 e 1914 a edificação desta rota marítima artificial entre o Mar das Caraíbas e o Oceano Pacífico por onde hoje circula cerca de 6% do comércio mundial. Mas não é menos verdade que Washington abdicou voluntariamente do exercício da soberania no canal em 1977 com a assinatura dos tratados Carter-Torrijos, que concediam à República do Panamá a plena jurisdição da zona a partir de 1999, como veio a acontecer.
O novo-velho inquilino da Casa Branca parece mesmo disposto a mandar às malvas o direito internacional, tal como aconteceu com o ditador russo ao ocupar parcelas da Ucrânia, será que isto legitima a partir de agora também a França e o Reino Unido a "reconquistarem" o Canal do Suez, inaugurado em 1869 e nacionalizado pelo Governo egípcio em 1956 apesar dos protestos de Paris e Londres?
Já que o mapa geopolítico anda a ser "redesenhado", perante o aplauso de alguns, convém não deixar o Suez de fora. Até por ali fluir cerca de 12% do comércio internacional - o dobro da percentagem do Canal do Panamá.
Este é o problema de quem semeia ventos: deve preparar-se para colher tempestades. O efeito de contágio é fatal: basta o rastilho de uma fogueira para que ela se multiplique por cem ou mil. E há sempre a hipótese de os tiros fazerem ricochete - mesmo que por enquanto não passem de tiros verbais.
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