NASA: decisão sobre trazer solo de Marte ficou para 2026

Decisão sobre futuro da missão Mars Sample Return será tomada pela próxima administração da NASA, que pode terceirizar empreitada NASA: decisão sobre trazer solo de Marte ficou para 2026

Jan 14, 2025 - 10:48
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NASA: decisão sobre trazer solo de Marte ficou para 2026

A NASA tenta há anos desenrolar a missão Mars Sample Return (MSR), uma joint venture com a Agência Espacial Europeia (ESA) para coletar, armazenar, e enviar amostras de solo de Marte para a Terra, de forma autônoma.

O custo do projeto escalou violentamente, ficando mais caro que o Telescópio Espacial James Webb (JWST), que já foi uma obra de igreja, e como consequência, a agência mandou rever tudo, de alto a baixo. Porém, a atual administração decidiu que não decidirá nada, e jogou a bucha na direção de Jared Isaacman, cuja gestão tem até 2026 para dar um parecer final.

Conceito original da missão Mars Sample Return (mais a Perseverance), revisto por ser caro demais (Crédito:NASA/JPL-Caltech)

Conceito original da missão Mars Sample Return (mais a Perseverance), revisto por ser caro demais (Crédito:NASA/JPL-Caltech)

NASA decidiu não decidir

Vamos dar uma repassada na história:

Em 2021, a NASA iniciou os trabalhos da missão Mars Sample Return, de coleta e retorno à Terra de amostras de solo marciano, de forma totalmente autônoma; o que temos hoje, realizado por rovers como a Perseverance, consiste em deixar as cápsulas in loco, para serem coletadas por missões futuras, preferencialmente humanos, que se sabe lá quando chegarão.

O projeto original envolvia o uso de um lander, uma estação de Ciências/laboratório estático, que levaria um novo rover dedicado, um braço robótico para transferir o material, e um MAV (Mars Ascension Vehicle, ou Veículo de Ascensão Marciana), basicamente um foguetinho, que receberia a carga.

Uma vez carregado, o MAV então seria lançado para se acoplar, na órbita de Marte, a uma sonda orbital, desenvolvida pela ESA, enviada em um segundo lançamento, esta projetada para redirecionar o foguete em direção à Terra.

A ideia do MSR é simples, como não há a menor previsão concreta de quando uma missão tripulada chegará em Marte, por mais que o presidente eleito Donald Trump queira que isso aconteça durante seu segundo e último mandato, ou seja, até 2028, a missão permitiria analisar essas amostras o mais rápido possível.

Pois bem: a missão tinha 2026 como meta de lançamento, mas o projeto do MSR, liderado pelo então administrador associado da Diretoria de Missões Científicas (SMD) da NASA, Thomas Zurbuchen, sofreu uma série de modificações sob o pretexto de mais segurança. Uma série de redundâncias e módulos adicionais foram sendo atochados, e no final, o escopo passou a contar com dois landers, dois helicópteros para coleta (justificados após os bons resultados do Ingenuity), a sonda orbital de redirecionamento, e o MAV.



O rover original foi substituído pela Perseverance, que funciona bem e não tem por que não ser incluída, mas isso não ajudou a amortizar os custos, que já estavam na média de US$ 1 bilhão por ano; como se não bastasse, o projeto do MSR impôs atrasos ao da missão Psyche, para estudos do núcleo do asteroide de mesmo nome, que foi lançada um ano após a data original.

Quando a conta caiu na mão do Congresso dos Estados Unidos, o orçamento já havia escalado para assustadores US$ 11 bilhões, um bilhãozinho a mais do gasto com o JWST, e como consequência, o MSR não só não passou, como a ordem foi revisar tudo. Não obstante, Zurbuchen e Jim Green, ex-cientista chefe e líder da divisão de Ciência Planetária da NASA, rodaram.

A NASA decidiu então passar a bola para parceiros comerciais, solicitou 8 estudos diferentes, a maioria de companhias privadas; das contempladas, SpaceX, Lockheed Martin, Northrop Grumman, e Blue Origin possuem designs de landers próprios, incluindo a Starship. A companhia do bilionário Elon Musk estima que cada missão da Statship, por ser recuperável e amortizável, custaria apenas US$ 50 milhões.

Aerojet Rocketdyne, Quantum Space, e Whittinghill Aerospace são as demais empresas sondadas, e a lista é fechada pela própria NASA, com o JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) e o Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (APL), incumbidos de apresentar uma versão mais enxuta, e barata, do plano feito em casa.

A Boeing não foi incluída na lista, mas sugeriu o uso do SLS mesmo assim, o que, diferente da maioria dos demais projetos, resolveria tudo em um só lançamento. Sua ideia envolve o lander, um MAV autônomo manobrável, que dispensaria a sonda orbital, e um rover de busca, para coletar as amostras da Perseverance. O problema, ele removeria a ESA do projeto, o que não pode acontecer.

As demais propostas envolvem mais de um lançamento, um deles do lander, usando o design adaptado do "guindaste voador" que pousou a Curiosity e a Perseverance, e outro dedicado à sonda orbital de redirecionamento do MAV. A única empresa com capacidade para realizar algo parecido seria a SpaceX, já que a Starship foi projetada com Marte em mente desde o início, e é o foguete mais poderoso da história.

Boeing ofereceu o SLS para resolver tudo em um só lançamento, mas orçamento continuaria alto (Crédito: Nathan Koga/NASASpaceFlight.com)

Boeing ofereceu o SLS para resolver tudo em um só lançamento, mas orçamento continuaria alto (Crédito: Nathan Koga/NASASpaceFlight.com)

Porém contudo todavia, o tempo foi passando e nada da NASA dar um norte para o MSR, e faltando menos de duas semanas para Donald Trump assumir a presidência dos EUA, o que implica na mudança de administração da agência, onde sai Bill Nelson e entra Jared Isaacman, não restava outra opção a não ser decidir não decidir nada, ao menos, não agora.

Em um anúncio oficial, a NASA afunilou os planos para duas propostas, uma delas a interna, que usará o "guindaste voador", e outra comercial, onde os parceiros concorrerão entre si, mas o desenho é basicamente o mesmo: um lander com um MAV menor, e a sonda orbital da ESA, que receberá 30 cápsulas da Perseverance, e despachará um módulo em direção à Terra. Não haverá outro rover, considerado uma redundância desnecessária.

Este plano não seria mais revisto, o que inviabilizaria a ideia da Boeing de um só lançamento, serão precisos dois foguetes, um para o lander/MAV, e outro para a sonda da ESA, provavelmente lançada de um Ariane 6, que não pode ser descartada, são os termos vigentes da joint venture.

De qualquer forma, a NASA só decidirá qual plano será contemplado em 2026. Oficialmente, a decisão foi tomada para não deixar a administração de Isaacson "presa" a metas estabelecidas antes, mas, na prática, a equipe de Bill Nelson passou a batata-quente para a próxima gestão, no melhor estilo "toma que o filho é teu".

Conceito do JPL para o "guindaste voador" adaptado, que pousaria o lander/MAV revisto da MSR (Crédito: NASA/JPL)

Conceito do JPL para o "guindaste voador" adaptado, que pousaria o lander/MAV revisto da MSR (Crédito: NASA/JPL)

Há também a outra possibilidade, de que a NASA considere toda a empreitada cara demais, e simplesmente cancele tudo, de modo a focar no que Trump quer, astronautas na Lua em 2027, e em Marte até 2028. Se este for o norte a ser definido de cima para baixo, o MSR se tornaria desnecessário, a equipe em solo recolheria ela mesma as amostras da Perseverance, e as traria de volta, muito provavelmente a bordo da Starship.

Claro que isso implicaria em problemas políticos com a União Europeia, que não ficaria nada contente de ver a ESA perder um projeto, ainda mais para SpaceX e Elon Musk, com quem o bloco está às turras, mas de novo, Trump não está nem aí para isso; o que ele quer são resultados, e se o Mars Sample Return for considerado um projeto injustificável, ele vai rodar sem cerimônia.

Ainda assim, só devemos ter uma posição oficial sobre a missão em 2026, logo, o que nos resta é esperar.

Fonte: NASA, Ars Technica, ExtremeTech

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